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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Nenhuma Santa - Conto





Foi assim, despindo-se ébria, cabelos ao descuido, envergonhada pelo que fez e dominada de cansaço que se rebelou com esses seus devaneios, parceiros adornados, não raro abobados da vida. Uma noite ruim para se terminar com o peito ativo, o coração batendo, mas a cabeça doía e, de certa forma, isso compensava a falta de desgraças complementares. E antes fosse por fatores biológicos a enxaqueca, mas era pelas confusões que se metera.



Foi caminhando pelo corredor da casa, esfregando-se na parede, a luz acesa ficando mais longe e o corpo tendendo para o chão. Andando apoiada pelos objetos fixos, outros sensíveis, pensáveis, quase caindo, mas bastava-lhe a moral tão baixa. Chegou ao banheiro, luz ainda desligada, mais por vontade do que por disposição. Cogitou olhar o espelho, sabia que deveria estar uma sem nada, teto, caráter, sem rosto de mulher. Debaixo do chuveiro, sentou-se no chão e com o braço alongado foi girando, vagarosamente, a válvula que abria o caminho para a água. Manteve a luz desligada, não queria se ver nos reflexos dos fluidos, das lajotas brancas, nem do corpo nu que refletia e transpirava as conseqüências da bebedeira.



Besteiras que fizera. Foi se emaranhar com alguns desconhecidos, um deles seu amigo, desconhecido o ar peralta até então, o outro alguém que a motivasse, e mais um elemento surpresa. Um desses lugares onde a perversão é companhia necessária, vai quem quer, vai quem nunca teve, vão os desesperados, doidos de amor – sexual, mas muito amor- para se entreter. E ontem, pela ocasião, a santa foi se divertir. Pegou, de louca que estava, nos egos, no corpo, juntou-se a todo o suor, a carne salgada, aos fios quebrados dos cabelos alcançáveis e entregou-se aos dois que arranjara no escuro.




Foram, no início,os três, para longe mais da claridade, mas permaneceram no ambiente de fumaça, dos cigarros que faziam soltar das outras bocas o aroma ritmado, o cheiro penetrante, o ar de exagerados, longas baforadas. No escuro se desmascararam, entorpeceram-se, pegavam-na com firmeza, vontade de bicho, fome de lobo, frieza típica de carrasco. Lançavam-na com força nos corpos uns dos outros, no peito grande que guardava toda aquela coragem de mulher, aquela personalidade tão amadurecida. Queriam ir longe, tentaram. Um desses foi procurar o carro que deveria estar guardado, não sabia onde. Pediu que esperassem, logo estava de volta, e correu inturgescido.



Saiu e outro, que tudo observava, já preenchia o espaço deixado. “Voltou cedo, cheio de mais vontades, ora veja, mas foi um menino e veio um homem ensandecido deste carro, o que houve?” Ninguém respondeu-lhe e, de olhos fechados para o que acontecia, nem queria que falassem mesmo. Não percebeu o que houve, mas já estava sendo envolvida por outro, alguém mais desconhecido que os outros dois, o elemento surpresa.




Terminaria a noite toda com esses apertos, beliscos e sussurros, palavreados distorcidos. Mas se surpreendeu com uma batida forte, um empurrão violento. ”Parem! Parem! O que foi? O que houve? Parem!” “Cala a boca mulherzinha! Cala a boca!” “Mas o que aconteceu? Alguém me explica?”. E os dois homens brigavam no chão desnecessariamente, na certa loucos. Uma correria, um alvoroço, gente correndo por todos os lados. ”Segurança! Segurança! Rápido, tira esses daqui! Leva pra longe! Leva!” Eram apenas os dois que rolavam nos socos, mas estavam já os quatro na rua. Lá fora seguiram seus caminhos, ignoraram as outras vidas. No exterior da festeira, a santa mulher, não tardou descobrir que um dos que lhe agarravam, com perfeita aptidão, era um sobrinho seu, que já corria para longe da situação, depois de traído pela tia, apanhado pelo descaso. O amigo que tinha, até momentos atrás, também a deixava só. O outro, que freneticamente lutou e de forma audaciosa se infiltrou na brincadeira, já ia distante, também de face ferida.



Com a cara de arrependida, um corpo cansado e algumas vermelhidões pelo corpo, pensava no tudo que ocorrera, com sono leve. "Que tornado este que fui cair, que vento esse que me derrubou? Que força! Que desejo! Que merda eu me meti!" E dormiu no banheiro, a água correndo, as pernas com uma sem vontade de andar, a reputação escancarada. Feneceu momentaneamente afim de jamais acordar, mas, quisesse ou não, amanhã acordaria.



6 comentários:


  1. muito interessante! gostei! a narrativa lembra a de um livro que eu to lendo agora chamado "Aberração" do Bernardo Carvalho!
    parabens

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  2. Eu não conhecia seu blog, li uns textos seus e gostei muito do seu estilo. Parabéns

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  3. que clautrofóbico...
    preciso de ar


    abraço

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  4. Pesado...pesado e forte, mas parece que falta um pouco de certeza em ti, parece que certas coisas que precisavam serem escritas, abriste mão, principalmente com relação aos 4. O texto é bom, bem bom na verdade, mas tu podes mais que isso.

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  5. noossa!! apesar de pesado e ate memso tenso, a escrita ta otima! Gostei!:) bjo grande

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