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EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Fim de Tarde


Que cheiro ruim, pensou. Esse de fim de tarde, atenuado talvez só pelo perfume de mulher. De tal modo, não importava. De onde estava estendeu os braços fazendo sinal, precisou mantê-los firmes no alto, por um instante pensou que seria em vão. Não foi, subiu o ônibus como que já fatigado pela tortuosa viagem em direção a casa.

Contou o dinheiro as pressas, separando um punhado de trocados de nem um mindinho de moeda. Escolheu o punhado, com as melhores das intenções, e entregou ao cobrador. Fitaram-se, como que se desafiando por motivos nem tão nobres. É dinheiro, ora essa, que faça suas caretas pro diabo, não pra mim.

Sentou-se à janela, sentindo o cheiro de fim de tarde. Inspirava o cansaço vespertino deixando que lhe habitasse os pulmões. Pensava em Mina, ao mesmo tempo em que expirava tédio, e queria, por um momento, não esquecer todo aquele perfume moreno com borrifos de suor. Essa tarde, ao menos, valeu pelo restante do dia. Não menos diferente que os outros, mas o dia já tinha lhe esgotado as energias. Pela manhã tanto trabalho e um pouco de luxúria pela tarde não era assim tanto pecado. Só de pensar na tarde já ia ficando intumescido.

Mesmo dentro dos pensamentos foi capaz de ouvir as altas palavras: - Sem pânico, geral. Vâmo todo mundo tirando o celular dos bolsos tudo e passando o dinheiro pra minha mão. Justo agora, pensou. Lembrou-se dos livros na mochila, do dinheiro no bolso e dos outros objetos não mais importantes que fariam falta no futuro. Fechou os olhos por um segundo, abriu-os, observou a situação e vomitou as palavras, com uma saliente faísca de poesia para o habitual: - Puta que pariu!

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