Se eu dissesse a vocês que apenas seis pessoas lhes separam de todo o resto do mundo, vocês acreditariam? Eu explico. Um estudo científico denominado Six Degrees of Separation (Teoria dos Seis Graus de Separação) diz que são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer no mundo estejam ligadas. O que isso significa? Que apenas seis laços de amizade são suficientes para você chegar até aquela escritora por qual você é apaixonado (a), aquele ator que você namora mesmo sem ele saber, e qualquer outro sujeito na face da terra.
Esses laços interligados de amizades compõem a narrativa de Jennifer Egan em A Visita Cruel do Tempo. Vencedor do Pulitzer de Ficção, National Book Critics Circle Award, Los Angeles Times Book Prize e Tournament of Books, o livro apresenta ao leitor uma estética que vai contra a usual, uma linha de inovação que prende a curiosidade de quem está lendo pela gama de personagens ao mesmo tempo isolados e ainda assim conectados por vários graus de separação.
O livro começa com Sasha, uma cleptomaníaca assistente de Bennie Salazar, um executivo da indústria musical que é separado de Stephanie, irmã de Jules Jones, um repórter que foi preso por atacar uma atriz em um parque durante uma entrevista. Kitty Jackson, a atriz atacada por Jules, é contratada muito tempo depois para trabalhar para La Doll, chefe de Stephanie e mãe de Lulu – que acaba se tornando assistente de Bennie Salazar. Ficou confuso? Eu também. Durante um instante você procura protagonistas pela história, até perceber que o protagonista é nada mais nada menos que o próprio tempo. Sim, meu jovem, o irremediável e surpreendente tempo.
É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?
O livro segue uma atemporalidade, não é nada linear, nada paralelo, é um completo vai e vem entre A e B. Onde “A era quando a gente tocava na mesma banda e corria atrás da mesma garota. B é agora”, quando a idade chegou, os filhos vieram e já não se cria mais muitas expectativas para aquilo que os jovens chamam de futuro.
Se você tivesse o poder de se ver daqui a uns 30 anos, qual seria a imagem que você veria? Jennifer faz o que vi Paulo Coelho fazer muito bem em Veronika Decide Morrer, junto com Patrick Suskind em O Perfume – História de Um Assassino: descrever o futuro do personagem como se você fosse deus e, portanto, realista e suavemente cruel como o tempo.
Charlie não conhece a si mesma. Dali a quatro anos, aos 18, vai entrar para um culto do outro lado da fronteira mexicana cujo carismático líder defende uma dieta de ovos crus; quase morrerá de intoxicação por salmonela antes de Lou a resgatar. O vício em cocaína exigirá uma reconstrução parcial de seu nariz, modificando sua aparência, e uma série de homens fracos e dominadores a deixarão sozinha aos quase 30 anos.
Durante algum tempo, sua vida será desprovida de alegria; ela terá a impressão de que as meninas choram demais e pensará com nostalgia no passado como único instante de felicidade em sua vida, quando ainda podia escolher, quando era livre e sem amarras.
O livro merece ser lido pela inovação e astúcia da autora por fazer um livro tão ambicioso, que de um lado descreve pessoas drogadas, foras de controle, porém livres e puras, e do outro mostra as mesmas pessoas transformadas pelo tempo, sintéticas, falsificadas e vivendo com uma camada extra em cima de si mesmas. É uma analogia a música, que o tempo transformou de pura e limpa para sintética e cheia de efeitos, onde a diferença entre a qualidade da voz de um cantor no áudio do seu mp3 e no ao vivo é tão grande que você torce pra que o cantor saia do palco e volte a viver no seu mp3, dentro da sua pokébola digital. Não custa nada fazer essa visita ao tempo e conhecer um pouco da sua involuntária crueldade.
Título: A Visita Cruel do Tempo
Autor: Jennifer Egan
Editora: Intrínseca
Ano da Edição: 2012
Nº de Páginas: 336
Parabéns pela resenha Elder! Estou ansiosa para ler A Visita Cruel do Tempo! Abraços!
ResponderExcluirO tema "tempo" sempre me atraiu, seja em livros, filmes ou séries, e pela resenha desse livro, eu posso esperar uma ótima história. Ótima resenha Elder, mais um pra lista dos livros que tu tens que me emprestar.
ResponderExcluirEu adorei esse livro! Achei incrível a maneira com que a autora escreveu a história... e quanto mais o tempo passa, mais eu gosto dessa história =D
ResponderExcluirJá li outro livro de Jennifer Egan e ela é realmente incrível.
Eu ainda não tive a oportunidade de ler outro livro da Jennifer Egan, mas pretendo comprar Torreão ou Caixa Preta, pois gostei muito do estilo da autora.
Excluirconheci essa teoria esse ano e achei ela bastante interessante!
ResponderExcluiro livro também, achei a sinopse bem original.. adoro tramas desse jeito!
vou buscar preços agora hahaha
beijos - rascunhos e borrões
Ja tinha visto a capa do livro que chama atenção, mas não tinha lido nada a Respeito, quero ler...
ResponderExcluirOtima resenha..
Já disse e repito, você é muito bom com as palavras! adoro tua escrita *-*
ResponderExcluirEsse livro parece ser muito interessante e complexo, não é à toa que ganhou vários prêmios.
Já sabes... pode colocar meu nome na lista de empréstimo xD
ótima resenha!! parabéns!!!
Teu nome já tá na lita, Juli, quando quiser é só pedir.
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