O Ovo Apunhalado, terceiro livro de Caio Fernando Abreu, presenteia o leitor com 21 contos, divididos em três partes: ALFA, BETA e GAMA. O livro foi primeiro publicado em 1975, refletindo os acontecimentos vigentes da sociedade da década de 70, e não muito tempo depois foi alvo da censura, tendo alguns de seus trechos cortados e três contos excluídos, o que levou a ser republicado em 1984.
O livro conta com um universo fantástico que captura o leitor a partir do primeiro parágrafo e o carrega por diferentes estados de excitação. Os personagens trazem consigo uma carga de emoção e intimismo que mesmo sendo os desejos e aflições exprimidos da sociedade da década de 70, conseguem atravessar os degraus do tempo e fazer com que o leitor de hoje se sinta desnudado e descrito pelo próprio Caio - o que talvez justifique as frases perambulantes pelas redes sociais.
Você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente.
Os contos são ricos em fantasia e são habitat de criaturas como anjos, homenzinhos verdes e gravatas assassinas. Parece surreal de início, mas, naquela época de censura, o sobrenatural não passava de um pretexto para dizer coisas que jamais seriam ditas em termos realistas. Mais do que um simples pretexto, o fantástico acabava por ser um combate sutil a uma ou outra censura.
Os três contos que, na minha opinião, merecem destaque são: Oásis, Gravata e Retratos. Oásis por conseguir despertar minha imaginação e me levar de supetão a minha época de menino; Gravata por deixar tão expostas as garras do consumismo; e Retratos por se revelar tão esclarecedor quanto a atrocidade do tempo. Porém, acima de tudo, o mais encantador é a pluralidade desses e dos outros contos presentes na obra, que tomam formas variadas e suportam todo o tipo de interpretação. Por todos esses motivos, deixo a dica: deixem-se inocular pelo vírus chamado Caio Fernando Abreu e degustem da obra fruto do boom da literatura brasileira.
MARAVILHOSO!!!
ResponderExcluir(Tenha consciência que estou aplaudindo de pé!)
Nunca consegui conceber uma resenha de Caio. Pode parecer bobagem, mas sempre me senti pequena demais pra um feito desse.
Eu realmente não saberia o quê expôr. Os contos dele são tão subjetivos, que eles ficam só dentro de mim e não conseguem sair.
Mas, tua resenha está digna dele: Fabulosa.
Fico imensamente feliz por saíres da galera dos quotes (malditos!). Conhecer a obra de Caio é fundamental para reconhecê-lo um NÃO-clichê.
As frases soltas são lindas e sentimentais, mas no contexto, às vezes, são cruéis e dolorosas, e é importante conhecer esse lado mais real e palpável dele.
Bem-vindo ao mundo de Caio F., querido.
Beijos.
Um viciado em Caio F falando do outro. Êh, como a vida é maravilhosa e o Caio é perfeito, né, Fernandinha?
ExcluirMe uniria à Fernanda e aplaudiria de pé essa resenha, se eu não estivesse no meio trabalho com muitas pessoas em volta. Ao terminar de lê-la tudo que eu quero fazer é adentrar, como disse a Fernanda, ao mundo de Caio F. de Abreu. Sempre gostei de ler contos, e mais ainda aqueles que possuem as suas críticas disfarçadas, suas metáforas e pelo visto esse livro é um prato cheio.
ResponderExcluirParabéns pela resenha Elder, pra mim uma das melhores.
Sim, adentre no mundo do Caio e veja o quanto o sujeito sabe escrever.
ExcluirEntão...eu conhecia o Caio somente pelas frases de faces e blogs, e eu amava. Na bienal do livro aproveite e compre três livros dele. Resultado: Não gostei de nenhum. O que fez reforçar que um texto fora de contexto, é só um pretexto.
ResponderExcluirPois é, não é uma leitura para todos, digo, algumas pessoas não gostam de contos, por exemplo, por acharem que as poucas linhas de um conto não são suficientes para fazer o leitor se apegar a algum personagem ou até mesmo a história. Quem sabe o próprio estilo surrealista do autor algumas vezes possa assustar alguns leitores. Mas penso que não tem como não admitir que ele escreve muito bem.
ExcluirEu também só conheço suas frases postadas em diversos perfis do Facebook XD Mas com uma resenha dessas, quem não fica com vontade de adentrar ao mundo de Caio F. Abreu também?
ResponderExcluirQue me empresta? XD
Fernanda Karen quem me emprestou e penso que é só tu pedires pra ela que ela te leva no próximo Clube do Livro.
ExcluirElder, como sempre, transmitindo perfeitamente a essência do livro. Só não tão perfeito quanto nós mesmos lermos. Baixarei em ebook =P
ResponderExcluirMuito bem! :)
ResponderExcluirEnfim uma resenha diferente! Ultimamente esse lance de resenhar está se tornando tão comum, qualquer pessoa sem um pingo de senso crítica resenha qualquer coisa e a coisa anda e aí vai... Mas parece que você se importa, um dos poucos, em conhecer além daquilo que lhe mostram! Fico muito feliz!
Tenho muita vontade de ler Os Girassóis, do Caio. Mas fiquei super curiosa com este romance Gravatas. Vou já colocar na lista do skoob!
Clique aqui e visite o Lar da Escriturária
Comentar é bonito e educado :)
Nossa, Teffi, adorei seu comentário... de verdade, fiquei super feliz em saber que "estou fazendo certo" e que você gostou da resenha. Obrigadão.
ExcluirGente estou de boca aberta!! Não só pr causa da resenha mas também porque eu não sabia que ele tinha um livro! Nem precisei ler o livro, só de ler essa resenha eu já entendi qual é a idéia principal do livro,mandou bem!...
ResponderExcluirNão li sua resenha toda porque ainda quero lê-lo e spoiler me tiraria a vontade.
ResponderExcluirMas tenho uma sede louca pelos livros de Caio!
E já vi resenha dele no Skoob, e é simplesmente perfeito! Mas ainda sim quero ler Morangos Morfados primeiro. (:
Belo blog!