Nadava sem jeito na falta de
espaço e descansava mesmo sem cansaço algum. Era assim, estranho no início,
confortável em seguida. No dicionário, depois, descobri que paraíso definia melhor a úmida atmosfera.
Mas o nome era diferente. Chamavam-lhe ventre,
diziam sempre, e o líquido em que mergulhava, amniótico. No invólucro
protetor, perto do quinto mês, minha audição já processava asneira: um
falatório repetido sobre gente que eu não conhecia. Era fofoca, fui descobrir
anos mais tarde, usada quando a vida dos outros é mais atraente que a nossa.
Um dia, sem quê nem para quê, fui
cuspido para fora. Expulso do paraíso e enxotado do meu, até então, sossegado
éden. Encravado no aconchego e vivendo cada dia por viver, vomitaram-me como se
existir fosse pecado. Uma barbaridade, uma claridade forte e umas mãos pesadas
em mim. O doutor, enquanto agarrava-me pelos pés, sorria com dentes grandes. Tão
feio que não deu outra: chorei logo no instante em que o vi.
Conheci tudo quanto era gente e
chorava em tudo quanto era ouvido. No futuro, quando a língua gesticulava, batizei
a dona de um desses ouvidos de mãe. Criatura atenta a mulher, cuidava de tudo.
Logo eu pensava e ela adivinhava meu querer. Uma formosura de pessoa, não durou
muito e assim, com tanto chamego, me apaixonei. Um amor à primeira experiência
de vida.
Fui tomando corpo, as pernas crescendo,
os dentes caindo e, quando dei por mim, já tinham roubado minha infância. O
amor de minha mãe já não era suficiente, uma urgência no meu peito crescia, um
desejo queimava. Mesmo não sabendo do que se tratava, apenas sabia que nunca
estivera ali. Era como dar falta de alguém que não existia, sentir saudade de
algo que nunca se teve.
Eu crescia cada vez mais enquanto
um calor pulsava cada dia mais intenso, confundindo tudo e semeando estranhos
pensamentos. Quando conhecendo a mim, descobria sensações que ninguém mais
parecia ser capaz de me oferecer. Uma cócega agradável e um conforto que me
saciava por completo. Expulso do paraíso, fui encontrar alívio nos braços de minha
mãe. Quando nem mais o paraíso de seus braços me consolavam, encontrei o
refrigério em meus próprios toques e devaneios.
Quando a adolescência passou e a
puberdade me deixou suas marcas, foi então que pude ser capaz de sentir. Uma
sensação específica proporcionada por uma pessoa muito especial, um brilho
intenso que iluminava no mesmo reflexo que cegava a vista, um canto que extasiava ao mesmo tempo em que ensurdecia. Foi assim, de repente, que
descobri que minha maior necessidade era de amor. Amor que transpunha o
sentimento e que repousava na carne. Amor de entusiasmos que incendiava o senso
crítico. Amor que era um cartão postal do paraíso.
Oi, bem legal seu conto, se não me engano contem tempo/espaço psicológico, gosto muito de contos com essa característica, lembro dos textos de Clarice, gostei muito. Beijo.
ResponderExcluirhttp://loucurasedevaneiosbyliza.blogspot.com.br/
Eu termino de ler esse conto e fico simplesmente sem palavras. Tudo que me vem a cabeça é "genial", é isso que esse conto é, genial!! É de uma beleza singular a forma como o Elder brinca e faz poesia com as palavras, me fazia sorrir enquanto eu lia o texto. E o texto em si é ótimo, cativante, perfeito. Só me faz reafirmar o que eu já havia dito antes: nunca pare de escrever seus contos, Elder. Eles são dignos de um grande escritor e são um deleite para os leitores. Parabéns! =)
ResponderExcluirTá. Eu nem sou o Elder e fiquei me abraçando enquanto lia o teu comentário hahahahaha
ExcluirConcordo com todas as tuas palavras, Júnior, e ainda te ajudo: Nunca pare de escrever seus contos, Elder!
E faço eco às sua palavras: Eles são dignos de um grande escritor e são um deleite para os leitores. Parabéns!
Ah, meu gordinho lindo! Nem se não tivesse tempo, daria um jeito de te saborear... hmmm e que gostoso!
ResponderExcluirMais um conto que me acalma o coração.
Beijo!
Inteligente, tocante e lindo. Você realmente tem uma escrita maravilhosamente mágica. Parabéns!
ResponderExcluirTodos precisamos de amor. O amor faz parte da nossa essência.
ResponderExcluirExcelente texto.
O mundo sob o meu olhar
muito bom!
ResponderExcluiroi,
ResponderExcluirotimo conto, muito bem escrito, parabéns!
adorei seu blog, curti n0o facebook
estou te seguindo, segue o meu tambem
http://www.lostgirlygirl.com
bjos
Demorei a retribuir, mas tô aqui.
ResponderExcluirAcho lindo quando as pessoas escrevem bem e têm coragem de expor seus textos. Eu não escrevo, mas se escrevesse os deixaria trancados na gaveta por vergonha. rs
Parabéns pelo texto! ^^
Beijinhos!
Giulia - prazermechamolivro.blogspot.com
Uau! Adorei o conto! tão lindo, profundo, inocente... Maravilhoso!
ResponderExcluirBeijos,
Marcelle
bestherapy.blogspot.com
Achei o texto muito criativo. Eu gostei do vocabulário também, preciso aumentar o meu :)
ResponderExcluirAchei legal ver um garoto postando no blog e tudo :)
Bom, Naquele MOmento está de portas abertas caso queira ver outros contos e dar opiniao em um futuro livro;
até,
www.naquelemomentoeujuro.blogspot.com
Nossa,você é muito criativo.
ResponderExcluirTotalmente diferente do que ando lendo por aí. Muito bom mesmo (:
http://www.avidaemletras.com/