Dê duplos twists carpados quem nunca andou pelo shopping e sentiu vontade de comprar todos os itens das prateleiras e de dividir tudo em 48x sem juros no cartão de crédito. É difícil não sentir vontade, não é? Se sua resposta foi sim, sou obrigado a lhe informar que você é mais um na estatística das vítimas do capitalismo. No geral, essas estatísticas são compostas por pessoas que vivem no ciclo vicioso do trabalhar e consumir, onde se trabalha para pagar as dívidas do consumo e onde o consumo lhe presenteia com dívidas novas que apenas o trabalho não é capaz de eximir. Quando se chega a esse ponto, onde o trabalho não é mais capaz de arcar com o consumo exacerbado, você já está sendo estuprado pelo capitalismo (parabéns!).
Clube da Luta, livro homônimo de 1996, conta a história de um jovem funcionário de uma empresa automobilística que vive preso nesse ciclo do trabalho e consumo imposto pela sociedade vigente. O livro constrói uma argumentação em cima das falsas necessidades e discorre sobre a libertação do homem das regras impostas pela sociedade, centrando boa parte do seu discurso na sociedade do consumo e apontando algumas mudanças estruturais nessa ordem.
Uma vida que esteja fora do ciclo trabalhar e consumir parece impossível para o jovem funcionário narrador da história. Sua vida sem perspectiva somada a insônia de meses o deixam em total sofrimento, algo similar a famosa preguicinha de viver. Sem saída para a insônia (e a preguiça de viver), o narrador recorre a assistência médica para se livrar desse sofrimento. O médico, por sua vez, recomenda que ele faça mais exercícios e, brincando com o narrador, sugere que ele vá a grupos de apoio para pacientes com doenças terminais para que ele conheça "sofrimento de verdade" e não apenas esse sofrimento típico de classe média sofre que o narrador anda sentindo.
O narrador acata a sugestão e decide frequentar os grupos de apoio. Os grupos, como o de leucemia, o dos parasitas cerebrais ou o do câncer nos testículos etc, o fazem aos poucos encontrar a liberdade na falta de esperança dos outros. Quando o narrador incorpora o estertor e se deixa invadir pela experiência de morte de todas aquelas pessoas enfermas, o sono, enfim, volta a fluir e a eficiência no trabalho retorna. O novo remédio, à base de desespero, mostra, portanto, seus esperados resultados.
Mas acontece que classe média nasceu para sofrer, e, no meio de todo o sucesso da terapia, surge uma estranha figura nos grupos de apoio que vem para perturbar o sossego do narrador: Marla Singer, a única personagem feminina da obra. Marla não está morrendo de verdade, assim como ele também não está, e tão pouco os dois são parasitas de algum vírus ou similar. Marla passa a frequentar os grupos de apoio e, de alguma forma, a mentira de Marla começa a refletir a mentira do narrador. Na presença de Marla, então, ele não sente mais nada, e, sem poder chorar, mais uma vez ele não consegue dormir.
O sossego tirado do narrador por Marla só volta a existir quando ele conhecer Tyler, em uma de suas viagens de negócios, e funda o Clube da Luta. Tyler Durden é um sujeito idealizador, que acredita ter enfim descoberto como viver além dos limites que a sociedade impõe e que prega a decadência do capitalismo através da deterioração de suas regras sem sentido. Tyler é tudo o que o narrador gostaria de ser, mas não é: um completo anti-capitalista, que rejeita o consumismo e a busca incessante por objetos inúteis que só servem para alimentar ilusões.
Um dia, chegando em casa depois de uma viagem de negócios, o narrador se depara com o seu apartamento completamente destruído e em chamas. Na calçada em frente ao prédio, jaz em cinzas o consumismo de sua vida inteira: uma mesinha de café com a forma do yan-yang, uma bicicleta ergométrica da Hovetrekke, um aparelho de jantar que havia comprado porque tinha achado a sua cara etc. Considero esse como o primeiro desligamento do narrador com sua veia consumista, o primeiro rompimento com as coisas que antes costumavam ser dele e que muito tempo depois passaram a mandar na sua vida.
Sem casa, ele decide ligar para Tyler. Os dois se encontram em um bar e, algum tempo de conversa depois, Tyler chama o narrador para morar com ele. Tyler pede ao narrador que lhe dê um soco e os dois começam a se envolver em uma luta que chama a atenção de outros homens. É a partir deste momento que é criado o Clube da Luta, onde homens se reúnem para brigar seguindo uma série de regras desenvolvidas por Tyler. O Clube da Luta, e o Tyler, trazem de novo o sossego que o narrador tinha perdido quando Marla começou a frequentar os grupos de apoio. No entanto, quanto tudo parece estar bem, mais uma vez Marla surge na vida do narrador e passa a competir com ele pela a atenção de Tyler.
Durante esse tempo de convivência com Tyler e Marla, o narrador se desconecta gradualmente do sistema capitalista. Confusões e questões oriundas de sua mente vão sendo expostas durante o livro de forma a sempre deixar pontas soltas. Leitores atentos (ou que já assistiram o filme baseado no livro) serão capazes de identificar detalhes na narrativa que levam a um dos momentos mais reveladores do livro.
O livro é em primeira pessoa e a exposição dos acontecimentos é bem descrita, embora eu confesse que no início o leitor possa ficar um pouco confuso. O conjunto dos fatos descritos impressionam e até convencem o leitor a deixar de ser tão consumista, eu mesmo pensei em mim e na relação quantidade de livros comprados e dinheiro para pagar as dívidas oriundas desses livros e fiquei triste (mas tudo bem, eu vou continuar comprando mesmo assim). Quanto a criatividade, o tema central não é novo para mim, mas foi muito bem abordado pelo Chuck Palahniuk, isso eu tenho que admitir, mesmo que a sua escrita seja apressadinha em algumas partes da obra.
Título: Clube da Luta
Título Original: Fight Club
Autor: Chuck Palahniuk
Editora: Leya
Ano da Edição: 2012
Número de Páginas: 272
Não li o livro ainda, apenas vi o filme e é até hoje um dos filmes que eu mais gostei, adorei o enredo e a forma como ele é desenvolvido. E a idéia do caos financeiro me atrai muito. Tem vezes que eu gostaria de ser igual ao Tyler, principalmente quando vejo a fatura do meu cartão, hehehe. No mais, ótima resenha Elder. ^^
ResponderExcluirÉ, eu gostaria de ser como o Tyler também... auto-contido e controlado. MAS essa vida de desapego ainda não é pra mim.
ExcluirMuito boa a resenha. Desperta até a vontade de ler e, já na resenha, me faz pensar no quanto ando consumindo, mas não, ainda não estou sendo "estuprado" pelo capitalismo. Rsrs'
ResponderExcluirEspero ver mais 10 resenhas por mês. ê.
Parabéns pelo blog. =D
10 resenhas por mês? Quem dera... a faculdade não me dá esse refresco.
ExcluirQuando terminei de ler o primeiro paragrafo da resenha, agradeci em voz alta, pois sou consumista-capitalista-viciadaemcompras-etc.
ResponderExcluirO livro me parece ser ótimo! Esses temas sempre fazem eu me sentir culpada por nascer, mas a tua resenha está ótima, como de costume,e atrativa demais para não entrar na minha lista.
Provavelmente, meu cartão de crédito pagará por ele. (Que irônico, não?!) HAHA'
Beijos.
Kkkkkk
ResponderExcluirfaço minhas as palavras da Fernanda! Ótimaaaaa resenha! E tá na minha lista, claro ;)
Sou particularmente apaixonada pelo filme! Estou com o livro em pdf no computador, mas não tenho muita paciência de ler e-books. :S Mas confesso que agora estou super louca para lê-lo!! *o*
ResponderExcluirAdorei sua resenha! Parabéns. :)
Beijos,
Samantha Monteiro
Word In My Bag
http://wordinmybag.blogspot.com.br/
Eu também sou gamado no filme e quando a Leya resolveu publicar o livro por aqui eu fiquei super feliz... e mais ainda depois de ler a obra. Os dois têm seus méritos e devem ser conhecidos.
ExcluirEu acabei de voltar de um blog onde tinha tipo de entrevista sobre seu livro favorito e a menina citou esse livro. Fiquei muito curiosa com a história por ser muito diferente do que eu costumo ler, e com a sua resenha com certeza é muito diferente. Acho que vou dar uma chance para ele. Adorei a resenha! *-*
ResponderExcluirObrigada pela visita lá no blog e desculpa por demorar tanto para responder.
Beijos,
Monique <3
Oi, Elder.
ResponderExcluirNão é o tipo de história que me atrai muito, embora acredite que a leitura deve ser realmente eletrizante. Assisti ao filme, tempo atrás. Seria bom ler o livro para comparar. Confesso que fiquei estimulada pela sua resenha. Infelizmente, algumas revisões deixam a desejar. Se não fosse por isso, você teria dado uma nota ainda mais alta à obra, né?
PS. Tem sorteio da "Série Cinquenta Tons de Cinza" em meu blog, completa!
Beijos,
Isie Fernandes - de Dai para Isie
Sim, sim, Isie. Se não fosse alguns problemas na revisão, o livro teria tido uma nota mais alta, mas essas coisas acontecem, não é? Paciência.
ExcluirOi Elder!
ResponderExcluirAté o momento só assisti o filme,bateu uma vontade imensa de ler o livro,ainda mais depois de acompanhar o seu post.
Abraço!
Bruno
http://oexploradorcultural.blogspot.com
Obrigada querido (:
ResponderExcluireu tb li isso que ele irá lançar so em 2014 coisa que não entendi, porque a Leya já divulgou a foto oficial da capa, então significa que o lançamento está próximo. beeijos
livrokawaii.blogspot.com.br
So vi o filme, que amei! E desde que vi o livro fiquei curiosa.
ResponderExcluirPela sua resenha da pra ver que é realmente muito bom. Adicionando na lista de desejados =)
bjoo
Com esse comentario da Fernanda: "O livro me parece ser ótimo! Esses temas sempre fazem eu me sentir culpada por nascer" eu calo a bocaaaaaaaa
ResponderExcluirEsse tipo de livro super me atrai, a resenha esta otima, percebi mudanças/melhoras, enfim muito bom assim como a maioria so conhecia o Filme, que particulamente é um dos que eu mais gosto/assisto...
Oi, eu tenho muita vontade de ler esse livro, e o meu lado consumista/capitalista fica louco para comprar ele.
ResponderExcluirAcho o assunto abordado na história bem interessante, e fico pensando em meu lado consumista que quer tudo, e nem sempre precisa. Preciso ler esse livro urgente.
Bjs
Oi!
ResponderExcluirConfesso que não tenho vontade de ler esse livro. Apesar de que já li muitos elogios sobre ele, não me interesso muito.
Mas eu gostei muito mesmo da sua resenha. Você quase me convenceu. rs
Abraço!
"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.com