Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP), no dia 21 de abril de 1930. Radicada no município de Campinas (SP) desde 1965, vivia na chácara Casa do Sol. Formada em Direito pela USP, desde 1954 dedicava-se integralmente à criação literária. É reconhecida hoje como um dos principais nomes da literatura brasileira contemporânea, com o conjunto de sua obra poética premiado em 2001. Em 2004, na madrugada do dia 4 de fevereiro, faleceu no Hospital das Clínicas da Unicamp, deixando a extensão de sua literatura para o mundo e perpetuando sua passagem por nós através dos conflitos e dramas de seus personagens.
A obscena senhora D., lançado em 1982, narra a mudança na vida de uma mulher de sessenta anos após a morte de seu dedicado amante. Senhora D., com o D de derrelição, D sinônimo de desamparo. Economizando alguns recursos linguísticos, o texto descreve a transformação e as indagações presentes na então vida de Hillé, a Senhora D. "Vi-me afastada do centro", desponta logo no início a personagem, afastada dos caminhos da normalidade, e seus passos são marcados pelo deslocamento em relação ao sensato. Hillé, desde que faleceu o devotado amante, danou-se a viver no vão da escada, onde peregrina em busca do sentido das coisas.
Na vivência de seus mistérios, no desenrolar de suas memórias, a personagem se deleita de saudosismos, conversando conversas antigas e lembrando de ocasiões e acasos de seu passado. Os diálogos intensos permeiam as poucas páginas que juntas formam a obra singular e o português, o texto e as páginas tomam forma e tapeiam o leitor com sua poesia marcada pela veracidade. Não é raro se questionar as mesmas questões da personagem e se confundir nos seus pensares de quem experimenta a sensação de vida há tanto tempo.
O texto é carregado de um Deus sempre indagado e, porém, de presença despercebida para a Senhora D. No seu estilo escrachado, Hilda diverte com seus diálogos, levantando questões até então desconhecidas (e hilárias). Em um dos momentos mais engraçados da obra, Hillé se indaga sobre o sistema digestivo de Deus. Sendo o homem à imagem e semelhança do divino, a Senhora D. se pergunta se Deus, tão bem como os homens, também possui cu. Isso é lá pergunta que se faça sobre Deus? Não conseguia segurar as gargalhadas enquanto lia suas interrogações estranhas. Mas suas questões não se restringem a santidade, Hillé também divaga sobre o que lhe roubou o pai e lhe tomou do leito de amores o amante, questiona sobre o Tempo.
O texto híbrido de Hilda caminha entre o poético e a narrativa dramática, de forma que os raciocínios mais sofisticados acompanham alguns desrespeitos às normas gramaticais. Não há a constante presença da preocupação com a palavra, há apenas uma necessidade de transmitir a informação. Embora os livros de Hilda sejam curtos, eles não devem ser destinados a mera codificação, mas devem sim ser largamente interpretados. É como se você lesse uma grande poesia repartida em alguns parágrafos, interpretasse estrofes que são capítulos. Eu, como leitor de poesia já apaixonado, me encantei pelo livro (que não é o primeiro que leio da autora) e recomendo suas obras a leitores curiosos por experimentalismos.
desde sempre a alma em vaziez, buscava nomes, tateava vincos, acariciava dobras, quem sabe se nos frisos, nos fios, nas torçuras, no fundo das calças nos nós, nos visíveis cotidianos, no ínfimo absurdo, nos mínimos, um dia a luz, o entender de nós todos o destino, um dia vou compreender, Ehud
compreender o quê?
isso de vida e morte, esses porquês
Na vivência de seus mistérios, no desenrolar de suas memórias, a personagem se deleita de saudosismos, conversando conversas antigas e lembrando de ocasiões e acasos de seu passado. Os diálogos intensos permeiam as poucas páginas que juntas formam a obra singular e o português, o texto e as páginas tomam forma e tapeiam o leitor com sua poesia marcada pela veracidade. Não é raro se questionar as mesmas questões da personagem e se confundir nos seus pensares de quem experimenta a sensação de vida há tanto tempo.
o que é paixão? o que é sombra? eu mesmo te pergunto e eu mesmo te respondo: paixão é grossa artéria jorrando volúpia e ilusão, é a boca que pronuncia o mundo, púrpura sobre a tua camada de emoções, escarlate sobre a tua vida, paixão é esse aberto do teu peito, e também teu deserto. E sombra, é nosso passo, nossa desesperançada subida.
O texto é carregado de um Deus sempre indagado e, porém, de presença despercebida para a Senhora D. No seu estilo escrachado, Hilda diverte com seus diálogos, levantando questões até então desconhecidas (e hilárias). Em um dos momentos mais engraçados da obra, Hillé se indaga sobre o sistema digestivo de Deus. Sendo o homem à imagem e semelhança do divino, a Senhora D. se pergunta se Deus, tão bem como os homens, também possui cu. Isso é lá pergunta que se faça sobre Deus? Não conseguia segurar as gargalhadas enquanto lia suas interrogações estranhas. Mas suas questões não se restringem a santidade, Hillé também divaga sobre o que lhe roubou o pai e lhe tomou do leito de amores o amante, questiona sobre o Tempo.
queria tanto te falar, por favor, queria te falar, te falar desses nadas do dia a dia que vão consumindo a melhor parte de nós, queria te falar do fardo quando envelhecemos, do desaparecimento, dessa coisa que não existe mas é crua, é viva, o Tempo.
O texto híbrido de Hilda caminha entre o poético e a narrativa dramática, de forma que os raciocínios mais sofisticados acompanham alguns desrespeitos às normas gramaticais. Não há a constante presença da preocupação com a palavra, há apenas uma necessidade de transmitir a informação. Embora os livros de Hilda sejam curtos, eles não devem ser destinados a mera codificação, mas devem sim ser largamente interpretados. É como se você lesse uma grande poesia repartida em alguns parágrafos, interpretasse estrofes que são capítulos. Eu, como leitor de poesia já apaixonado, me encantei pelo livro (que não é o primeiro que leio da autora) e recomendo suas obras a leitores curiosos por experimentalismos.
Ótima resenha, e ótima também, como a resenha indica, a obra da qual ela fala. Deu vontade de começar a lê-la agora mesmo. =)
ResponderExcluirA resenha ficou excelente. Já tinha curiosidade de ler algo da Hilda, agora fiquei com muita vontade de ler o livro.
ResponderExcluirParabéns pela resenha, ficou excelente (:
ResponderExcluirGostei muito dos quotes que você pôs.
Vou buscar saber mais sobre esse livro. Espero lê-lo em breve.
Abraços.
Entre Livros e Livros.
musicaselivros.blogspot.com
Primeira vez que vejo alguma resenha da Hilda Hilst. :O
ResponderExcluirExcelente indicação! Adoro livros que são baseados no saudosismo dos personagens. Adoro esse desenrolar de lembranças. Sempre me atraem. :)
Um beijo,
Luara - @luuara
http://www.estantevertical.com/
Olá ♥ desculpa o incomodo, estou vindo aqui pra te convidar a participar da nova coluna no meu blog, se chama “Resenha do Leitor” então se você tiver uma opinião sobre, filmes, livrou ou qualquer outra coisa que queira compartilhar e ainda ganhar divulgação dá uma passada lá para saber como, acabei de escrever a postagem.
ResponderExcluirhttp://himi-tsu.blogspot.com.br
Oi!
ResponderExcluirPrimeira vez que eu vejo uma resenha de Hilda Hilst! rs
Eu não sei se gostaria desse livro, mesmo você o elogiando. Mas caso tenha a oportunidade de lê-lo, não deixarei passar.
Parabéns pela resenha!
Abraço!
"Palavras ao Vento..."
www.leandro-de-lira.com
Como você escreve bem! Nossa fiquei impressionada! Tudo o que você escreve carrega algum tipo de bagagem sentimental. Gostei muito!
ResponderExcluirConfesso que tenha um pouco de dificuldade em ler poesias. Não é que eu não goste, eu apenas não consigo apenas sentir, tenho que entender sabe?
Não sei se gostaria tanto da leitura quanto você gostou, mas adorei os quotes então fiquei super curiosa para ler.
Vamos ver o que acontece. kkkk'
Um beijo ;*
Juliana . Oliveira
http://trocandoconceitos.blogspot.com.br
Oi Eder!
ResponderExcluirÓtima a sua resenha, mas não é o tipo de livro que me atrai. Não duvido em nada que seja um maravilhoso livro para quem aprecia o estilo! :)
Beijos,
Marcelle
bestherapy.blogspot.com
Adoro poesias, acho que é por que elas carregam algo bem intenso, e gosto muito disso, a resenha ta ótima! Esse livro parece ser muito bom.
ResponderExcluirbeijos
Jéssica - Strawberry de livros e filmes
HUm...ler esse livro é como ler um grande poesia...Nahim! Adoreii e gostaria muito ler. Vou procurar esse livro.
ResponderExcluirBeijos!
Paloma Viricio- Jornalismo na Alma
Tem selinho pra você no meu blog! ><
ResponderExcluirhttp://garotameiosangue.blogspot.com.br/2012/12/selinho-liebster-award.html
Helder!
ResponderExcluirMuito boa resenha sobre um enredo diferenciado, o livro deve ser interessante.
Sobre as cartas que perguntou lá no blog, é que faço correspondência com pessoas do Brasil e do Exterior.
Agradeço sua doce visita ao blog e venho retribuir com meu carinho! Obrigada, volte sempre!
" Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança.Está sempre à procura de companheiros para brincar."(Rubem Alves) Vamos nos divertir!!!
Passando para desejar uma quinta repleta de alegria, felicidade e muito amor, e, um mes iluminado pelo sol do verão que vai chegar!!!
Blogueiras Unidas 1275!
Luz , paz e amor no coração!
Cheirinhos
Rudy
BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Oi, Elder.
ResponderExcluirEu amo poesia, simplesmente. Deu para sentir o forte pulso literário da autora, que eu não conhecia, isso não é péssimo? Senti a forte nostalgia nos trechos, especialmente no primeiro. Quem é que não se lembra de seja lá o que for do passado em dobras, frisos, perfumes...? Amei a indicação. Seria um livro para ler em busca do novo, um novo não tão novo assim, mas diferente. Aprender nunca é demais.
Beijinho,
Isie Fernandes - de Dai para Isie
bom ... adoro a Hilda ...
ResponderExcluirFiz uma oficina sobre a Hilda H. Um dia inteiro estudando as obras delas. Muito material :-)
ResponderExcluirBj, Aris.