Das caravelas de Cabral às barbas do tio Sam (e de longe observando a terra da rainha)

Ninguém sabe que coisa quer. 

Ninguém conhece que alma tem, 

Nem o que é mal nem o que é bem. 

(Que ânsia distante perto chora?) 

Tudo é incerto e derradeiro. 

Tudo é disperso, nada é inteiro. 

Ó Portugal, hoje és nevoeiro... 

(Fernando Pessoa, Nevoeiro)

Um pouco depois de 2013 dar as caras, uma ideia um tanto pretensiosa surgiu em mim: fazer intercâmbio. O Ciência sem Fronteiras, programa do governo federal, aparentava ser o programa de intercâmbio que melhor atendia minhas humildes expectativas: cursar disciplinas do meu curso que não existem na minha faculdade e ainda ter a oportunidade de conhecer diferentes culturas. Impulsionado por uns amigos que já tinham tido essa experiência, decidi me inscrever no programa e arriscar. O meu nível intermediário de inglês, porém, logo me impediu de tentar o intercâmbio para países de língua inglesa e, num contentamento descontente, acabei me inscrevendo no programa para realizar o intercâmbio em Portugal, ora pois. Era exatamente aí que começava minha odisseia, minha volta ao mundo dentro do Ciência sem Fronteiras.

Portugal não me despertava tanta atenção, tanto pela inexpressividade na minha área quanto pelo fato de a língua nativa ser o português. Depois de inscrito no programa até cogitei desistir, mas me lembrava que Portugal é um gigantesco centro-histórico e que seria a porta para o berço da humanidade: a Europa (turistagem sem fronteiras). Então, de repente concebi a ideia de que fazer intercâmbio em Portugal seria uma experiência enriquecedora. Se eu fosse pras terras lusitanas, poderia ir em um show da Mariza, poderia visitar outros países e poderia expandir meus conhecimentos nas universidades portuguesas.

Porém, no primeiro dia de Março, a organização do programa despirocou valendo. Na minha caixa de entrada um e-mail anunciava que o número de vagas para Portugal era limitado e que eu poderia trocar minha candidatura para outro país. Nas opções constavam Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Canadá, Irlanda, Itália, França ou Alemanha, mas apenas precisei ler até Reino Unido pra tomar minha decisão. UK, sem dúvida, seria o destino ideal, não apenas por ser UK, mas pelo fato de o país ser referência em pesquisa científica na minha área. Nesse dia, coloquei Portugal no bolso e me entupi de expectativas com a terra da rainha.

The XX, The Cure, The Kooks, The Vaccines, The Smiths, Metronomy, Goldfrapp, Depeche Mode, Amy Winehouse, Florence + The Machine, Marina and The Diamonds, Jane Austen, Agatha Christie, Oscar Wilde, Virginia Woolf e Charles Dickens: tudo do Reino Unido, apenas. Perderia a madrugada contando os motivos que poderiam fazer qualquer um ir para UK, mas é melhor parar por aqui porque essa história não teve um final feliz. Pobre não tem querer e claro que comigo não iria ser diferente. Na madrugada da sexta-feira passada a organização do programa enviou um comunicado aos candidatos. Por algum problema relacionado ao visto, não poderíamos ser alocados para o Reino Unido, mas para firmar o compromisso com os alunos seria dada a oportunidade de transferirmos nossas candidaturas para os EUA. Por algum motivo tia Beth não queria os brasileiros lá, mas tudo bem, recalque bate no meu green card e volta.

Confesso que em momento algum pensei nos EUA como intercâmbio e, como tantos outros candidatos, fiquei frustrado com a ideia de re-reoptar. Mas (licença que lá vem o clichê PRE-PA-RA) pessoas felizes nem sempre possuem tudo o que desejam, elas apenas sabem tirar o melhor das oportunidades que aparecem nos seus caminhos. No final, não fiz sala pra dor de reopção, UK me deixou e EUA me embalou. Olá negões, disse pra mim mesmo. It's a party in the USA.