Autor: Henrique Pompermaier
Editora: Multifoco (selo futurArte)
Edição: 1
Ano: 2012
ISBN: 9788579619533
Número de Páginas: 90
Onde comprar: Livraria Cultura | Livraria da Travessa
Blog do autor: http://www.hpompermaier.com/
Não precisa de muito trabalho para ver que o mercado editorial brasileiro não está para poesia (ou pelo menos não está como deveria). Na dúvida, basta checar as listas dos livros nacionais mais vendidos: a não-ficção impera com suas biografias enquanto os livros de ficção brasileiros não emplacam. Nesse cenário, a poesia se ofusca entre os best-sellers.
Mas surpresas boas dão as caras vez ou outra, como quando Toda Poesia – Paulo Leminski assumiu o topo no ranking dos livros mais vendidos na Livrarias Cultura e ultrapassou Cinquenta Tons de Cinza. Pode ser pouco para uns, mas já enxergo o feito como um marco e quem sabe um alerta para que as editoras comecem a se repensar.
A poesia faz parte do nosso dia-a-dia e os que se deixam passar alheios por ela podem contar com a ajuda e talento de alguns para abrir os olhos frente as inspirações do cotidiano. É sobre um desses talentos e sua obra de estreia que essa resenha é dedicada. O poeta em questão é o marauense Henrique Pompermaier e sua obra de entrada é Causas e Compartilhamentos.
O livro foi lançando em novembro do ano passado enquanto o autor rodava todo o sul dos Estados Unidos. Os seus textos falam de problemas comuns da pós-modernidade e são acompanhados de um humor agradável e astuto senso crítico. Outro destaque do autor é sua escrita imediata e firme, as palavras parecem estar ali com um propósito definido e não apenas para enfeitar.
mandaram photoshopar
a foto do teu jazigo
há anos cubro de flores
um túmulo desconhecido
O eu-lírico de Causas e Compartilhamentos reconhece o quanto a tecnologia alterou a maneira como as pessoas se relacionam, mas admite as vantagens do mundo virtual, como a de poder escutar suas músicas norte-americanas dos anos trinta e quarenta a qualquer dia pela manhã com o esforço de poucos cliques. Há espaço ainda para algumas doses de afeto e um manifesto contra o uso de citações.
O autor dispensa alguns recursos estéticos e linguísticos, revelando a clara vontade de escrever e conectar as suas ideias no agora, de forma breve e concisa. De certa forma, essa característica atribui uma pessoalidade aos textos, como se às vezes estivéssemos lendo um diário ou mesmo uma carta secreta para algum remetente desconhecido na imaginação.
O autor dispensa alguns recursos estéticos e linguísticos, revelando a clara vontade de escrever e conectar as suas ideias no agora, de forma breve e concisa. De certa forma, essa característica atribui uma pessoalidade aos textos, como se às vezes estivéssemos lendo um diário ou mesmo uma carta secreta para algum remetente desconhecido na imaginação.
só seu desenho do rosto
quando posto sorrindo
parece um empurrãozinho
no mundo
Causas e Compartilhamentos despertou minha atenção não por causa de sua escrita esteticamente simples e objetiva, mas pela sua densidade poética. Hoje muita gente faz poesia, mas são poucos os que querem dizer alguma coisa. O livro do Henrique foi uma surpresa boa no meio de tanto texto sem expressão que se encontra nos dias atuais.
No fim da resenha deixo de bônus um outro talento do autor, seu talento como compositor. The lonesome prayer foi composta nos Estados Unidos no ano passado enquanto o livro era lançado aqui no Brasil e a música foi produzida por Daniel Téo. Espero que gostem tanto quanto eu gostei desde o primeiro momento em que escutei. Look at yourself, inside of that stone there's somebody else who died a long time ago... so many times.
Nota: 4.5 corvos.
Realmente, faz tempo que não leio uma obra recente de poesia. Tenho a impressão às vezes que esse ramo morreu no Brasil, não sei se por causa da avalanche de best-sellers, ou se simplesmente porque o brasileiro tem preguiça de pensar.
ResponderExcluirGostei muito de seu blog, ultimamente tá difícil ver um apresenta a literatura de verdade; a maioria fica passeando por essas modinhas da hora que, no fundo, não tem nenhum valor literário, rsrsrs.
Seu blog é realmente bom, já estou seguindo.
Também iniciei um, se quiser passar e dar uma olhadinha depois...
Abraços!
http://pecasdeoito.blogspot.com.br/
É, você tem toda razão quando diz que o mercado literário ainda não dá tanto valor a esse estilo literário. Eu mesma não leio uma coletânea de poesias HÁ TEMPOS e isso faz falta, porque é tão gostoso você ler livros assim, penetrar nos sentimentos do autor.
ResponderExcluirMuito legal essa indicação, Elder. Não conhecia e agora estou com uma super vontade de ler.
Um beijo,
Luara - Estante Vertical
Não sabia sobre o número de vendas de "Toda Poesia" ter ultrapassado "Cinquenta Tons de Idiotice" - hahaha! Eu adoro poesia! Não leio muito, verdade, mas sempre fico encantada quando pego algo do gênero para ler. Quero muito ler "Coração de Vidro" do Marcos de Sousa. Já li alguns poemas dele, são fantásticos! Infelizmente os leitores ainda estão alienados, tenho esperança de que isso mude algum dia.
ResponderExcluirÓtima postagem, parabéns!
Beijos,
Isie Fernandes - de Dai para Isie
Concordo plenamente com seu ponto de vista. A literatura nacional vem perdendo espaço para a literatura internacional. Mas confesso que muitas vezes é pela falta de talento, vamos dizer assim, dos autores nacionais.
ResponderExcluirJá li diversos livros nacionais e muitos poucos conseguiram me fascinar. Falta um trabalho mais elaborado, mais envolvente, empolgante e quando encontramos isso num livro de poesias é tão bom quanto um canto de rouxinol.
Um beijo e aproveita pra visitar meu blog
Baiana Literal
http://tharcilalima.blogspot.com.br/
Tá frio, sabe Elder? Friozão. Aqui tá fazendo seis graus e eu fiz um trajeto a pé da minha faculdade até a minha casa. Coisa pouca. 45 quadras. Sabe que eu pensei durante o meu cooper noturno que eu tenho que postar no meu blog?
ResponderExcluirE depois meus pensamentos foram se dispersando, até que cheguei no seguinte contexto: quantos blogueiros literários são estudantes em áreas de exatas/computação?
Aí eu jantei. Vi Tv. Cogitei lavar o prato - mas desisti -. E me deparei com teu blog! Que coisa legal, não?
Minha mão ainda tá gelada. mas vou fazer um esforço para me apresentar: meu nome é Bruno e sou estudante de Engenharia de Software. O resto tu descobrirá com o tempo - se quiseres.
Mas falando de poesia: ela não está para poesia porque nunca foi ):
É triste dizer isso. Mas tirando uns seculos passados, a poesia extinguiu-se e por boa razão: para que ler o que é intrínseco?
Não que a prosa seja algo fácil. Não é. Mas o ser humano necessita saber que 1+1 é 2... e na poesia, 1+1 é tudo aquilo que tu pode sentir. Sem margens, sem pontos, sem limites. A prosa, querendo ou não, é inserida em um contexto com especificações (ou data, ou hora, ou o modo de pensar); já a poesia é dispersa: apenas uma jogada com palavras sem saber onde está a trave e quiçá o gol.
resumindo tudo: poesia não dá dinheiro, não. E o que não dá dinheiro, divulgado não é.
Mas é isso aí, moço. Tua resenha tá muito legal, o poema do sorriso tá-prá-lá de encantador e eu compraria o livro (se não fosse estudante sem tostão no bolso) após ter lido esta resenha!
Abração
www.importunobruno.com.br
Cara, eu sou pesquisador em um laboratório de Engenharia de Software aqui da UFPA, que mundo blogosférico pequeno é esse?
ExcluirObrigado pelo comentário tão sincero.
=)