skip to main | skip to sidebar

EU, ELDER F.


Livros, filmes, fotografias e histórias contadas pela metade.

Se não sei matemática, logo sou burro? Freud explica

Na verdade, Freud não explica nada disso, quem explica é o americano Howard Gardner, mas eu bem que poderia criar um texto do nada afirmando que Freud não apenas explica, mas ele também afirma com todas as letras que quem não sabe resolver equações do segundo grau deveria voltar duas casas nesse jogo que é a vida (hoje acordei metafórico). Afinal de contas, na internet a gente fala tudo o que dá na telha (ou quase tudo) e fica a critério dos outros acreditar ou não. A consequência direta da popularidade no mundo virtual faz muitos falarem o que querem, outros muitos acreditarem em tudo o que é falado e uns poucos analisarem com cuidado o que se tem falado por aí. 

No início dessa semana, deparei-me com um post no Catraca Livre, site com quase 5 milhões de seguidores, intitulado "Existem sete tipos de inteligência, descubra qual é a sua". Como se não bastasse o título bem estilo BuzzFeed de ser, o texto bem raso comentava sobre sete diferentes tipos de inteligência sem ao menos fazer menção ao criador da teoria das Inteligências Múltiplas, o Howard Gardner, ou mesmo menção a teoria em si. Em um momento inicial, parece que o autor do post teve uma visão, "acho que existem sete diferentes tipos de inteligência no mundo", e escreveu sobre sua visão que veio do além. O texto vazio do Catraca Livre esconde uma teoria interessante sobre a inteligência humana e outros estereótipos que desenvolvemos relacionados ao conceito de inteligência. Que maravilha, hein? 

Certo de que o autor do post do Catraca Livre não pisou na bola por maldade, mas por falta de atenção (ou pelo menos quero acreditar nisso), decidi falar um pouco sobre a teoria das Inteligências Múltiplas do Gardner. Os motivos para discutir sobre ela são três: (1) realizei uma pesquisa sobre a teoria em 2013 (não me pergunte o porquê) e na época compartilhei os resultados com vários amigos, (2) o texto do Catraca Livre convida os leitores a descobrirem o seu tipo de inteligência, mas não oferecem mecanismos para tal e (3) desde que li o texto no site fiquei comentando com meus amigos sobre essa banalização da ciência tão presente na internet e estava começando a pensar em escrever um post no meu blog sobre a teoria do Howard Gardner.

A teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner entre os anos 70 e 80 (para a surpresa do editor do Catraca Livre) e surgiu a partir do momento em que o conceito de inteligência começou a ser visto como relativo, pois em uma cultura indígena, por exemplo, a inteligência pode ser medida pela habilidade de pescar e não de resolver algum cálculo matemático. Desta forma, o psicólogo salienta que nós todos temos habilidades que podem ser desenvolvidas de acordo com nossas capacidades intelectuais e que não existe uma método para calcular inteligência. Nós, portanto, possuímos diferentes perfis de inteligência e rótulos como inteligente ou burro ignoram o fato de que o conceito de inteligência é mutável e completamente abstrato. 

Indo contra práticas comuns de medição de inteligência tais como os famosos testes de QI, Gardner desenvolveu a teoria das Inteligências Múltiplas, onde ele explica que todos nós temos diferentes inteligências e que avaliações que apenas consideram certas habilidades como matemática ou redação podem ser injustas. Como já disse Einstein, todos são gênios, mas se julgarmos um peixe por sua habilidade em subir árvores, ele passará o resto da vida acreditando ser incapaz. Como resultado das pesquisas de Gardner, foram definidos oito diferentes tipos de inteligência: corporal, naturalista, intrapessoal, interpessoal, linguística, lógica, musical e espacial. 

A inteligência corporal está relacionada a capacidade de controlar o corpo e aqueles que a possuem aprendem melhor quando usam o corpo (sem piadinhas, por favor). As profissões associadas com a inteligência corporal podem ser atleta, coreógrafo, dançarino, ator, entre outras. Já a inteligência naturalista está ligada ao entendimento do mundo e aqueles que a possuem tendem a notar padrões, fatores e irregularidades no meio ambiente. Os que possuem inteligência naturalista frequentemente enveredam em áreas como biologia, farmácia, meteorologia ou veterinária. A inteligência interpessoal, por sua vez, está relacionada a habilidade de entender o próximo e profissões associadas com a inteligência interpessoal são professor, advogado ou enfermeiro. 

Por outro lado, a inteligência intrapessoal tem a ver com o entendimento de sentimentos mais internos e de estados emocionais. As carreiras associadas com a inteligência intrapessoal podem estar envolvidas, por exemplo, com psicologia. Já a inteligência linguística está ligada a capacidade de pensar em palavras e usá-las para persuadir, informar, contar histórias, fazer poesia ou entender conceitos complexos. As carreiras associadas com esse tipo de inteligência podem ser jornalista, escritor, advogado, filósofo e a lista é longa. Em contrapartida, a inteligência lógica está relacionada a identificação de padrões, definição de relações de causa e efeito e condução de experimentos. As carreiras associadas com a inteligência lógica podem ser contador, cientista da computação, engenheiros elétricos, químico, físicos, matemáticos, etc.

A inteligência musical está relacionada aos sons, ritmos, melodias e rimas, e pessoas com inteligência musical aprendem com maior facilidade quando envolvidas com música. As carreiras associadas com a inteligência musical podem ser professor de música, compositor, vocalista e, claro, músico. Finalmente, a inteligência espacial diz sobre a habilidade de perceber, criar e recriar pinturas e imagens. As carreiras associadas com a inteligência espacial são arquiteto, designer ou pintor. De acordo com Gardner, cada uma dessas inteligências pode ser desenvolvida e melhorada e, com frequência, somos capazes de desenvolver uma ou muitas dessas inteligências. 

Usando o Google, encontrei dois diferentes quizzes que auxiliam na descoberta da sua inteligência. O primeiro encontrei no site Edutopia que através de 24 perguntas apresenta alguns resultados interessantes. No teste, por exemplo, descobri que tenho inteligência intrapessoal em um nível de 20 até 30 e inteligência linguística em um nível de 18 até 30. O segundo quizz, encontrado no site BGfL, apresenta o resultado em porcentagens. Por exemplo, os meus resultados foram 81% de inteligência intrapessoal e 75% de inteligência linguística. Os testes estão em inglês e os links para os testes podem ser encontrados no final desse post.

A principal razão de se levantar essa discussão sobre diferentes tipos de inteligência está ligada à educação. Se um indivíduo, por exemplo, se identifica com um perfil de inteligência onde a leitura seja o meio por onde ele ou ela melhor aprende, então tanto o professor quanto o aluno com inteligência linguística devem se aproveitar dessa habilidade. As pessoas devem usar seu perfil de inteligência para alcançar seus objetivos e melhorar a forma como aprendem. Quando sabemos nosso perfil de inteligência, podemos identificar pontos onde podemos desenvolver habilidades específicas e assim continuamos aprendendo e somando conhecimentos.



Qual é a sua inteligência? Quizzes:


8 comentários:


  1. Oi Elder, gostei do teu texto, muitas vezes sites grandes colocam matérias com pouco fundamento de pesquisa, acho que seria legal você enviar seu link pra eles! hahahaha Vou fazer um desses testes, fiquei curiosa!

    Beeijos, Paola
    uma-leitora.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  2. Oi Elder, tudo bem? Adorei o seu texto, acabei fazendo o teste e deu 26 pontos para linguística e 18 pontos para lógica-matemática. Achei muito legal sua pesquisa e realmente concordo com ela, podemos ter diferentes tipos de inteligência, claro que alguma sempre se sobrepõe e podemos aperfeiçoa-la. De vez em quando o Catraca Livre dá algumas mancadas mesmo, e fiquei curiosa como eles basearam a matéria deles.

    Beijinhos,

    Rafaella Lima // Vamos Falar de Livros?

    ResponderExcluir
  3. Oi!
    Gostei bastante do texto, é um assunto que ia gostar de discutir numa roda amigos do curso =)

    Bjs,

    http://www.amigadaleitora.com/

    ResponderExcluir
  4. Catraca é muito raso em tudo, tanto que fizeram um twitter p zuar o site, eles tem um marketing bom mas o que não se reflete no conteúdo... Nunca tinha ouvido falar da teoria, interessante trazer isso pro blog.

    Abs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, nunca gostei de sites no estilo BuzzFeed porque são bem superficiais quanto a conteúdo, daí agora ainda tem Catraca Livre e Hyperscience e outras dezenas que meu deus, vou lendo e sangrando.

      :P

      Excluir
  5. Queria ser inteligente o bastante pra me interessar por ler todo o texto.
    Confesso que parei na metade, porque parece que meu cérebro começou a entrar em parafuso durante a leitura, especificamente quando você começou a relatar as teorias.
    kkk.. Nunca me julguei alguém inteligente, apesar de quem tá de fora dizer que sou (Ah! Se eles soubessem... rs!).

    Seu Blog é muito legal, de verdade! Só lamento não ser o meu perfil. Eu costumo acessar aqueles que falam de coisas mais sem importância, sem muita base teórica (Há controvérsias). Rs!

    No mais, só desejo muito sucesso pra você!
    Abração!!

    O coração do menino

    ResponderExcluir
  6. Oi Elder, como vai? Amei o post! As referências no final foi muito bacana, terminei rindo e realmente não esperava. Sobre o post de um modo geral achei sua iniciativa digna de palmas [Tocantins inteiro, por que não?! rss] nos últimos tempos e principalmente com a ajuda eficaz da internet as opiniões estão sendo cada vez mais disseminadas, não que isso seja ruim, só acho complicado quando elas são jogadas na rede como verdades universais e quando quem ler nem se preocupa em refletir acerca do que foi dito e pensar criticamente quanto daquilo faz sentido ou não. A alienação do sujeito é um problema que as vezes me pergunto se um dia sera resolvido, mas o que fica claro é que as pessoas (algumas delas) tem preguiça de questionar, preferem concordar, aceitar e ponto, é mais simples, da menos trabalho, fica mais fácil! Só nos resta esperar que essa preguiça se converta em sede de conhecimento, e as pessoas também entendam que nem tudo que é dado como verdade ou postado na internet é uma verdade divina ou algo do tipo!

    Parabéns pelo excelente post!

    Abraços!

    joandersonoliveira.blogspot.com.br

    ResponderExcluir