Na seção de agradecimentos no final de Dois Garotos Se Beijando, David Levithan faz uma afirmação que ressalta a queda gradual de barreiras frutos de preconceitos: "Este não é um livro que eu poderia ter escrito dez anos atrás." E ele está completamente certo quando diz isso. Há dez anos atrás, enquanto eu estava no ensino fundamental, eu nunca cogitaria a possibilidade de um dia entrar na Livraria Saraiva e encontrar em destaque um livro que possuísse como capa a imagem de dois garotos se beijando. Em outras palavras, um livro que abraçasse de forma tão aberta temas envolvendo o universo gay. Dois Garotos Se Beijando evidencia grandes eventos, desafios e mudanças que a comunidade LGBT tem passado por décadas e, indo além de ser "mais uma história gay", a obra desencadeia uma mudança de paradigma na ficção para jovens e adultos.
O tronco da narrativa foca em dois adolescentes, Craig e Harry, que estão tentando quebrar o recorde de beijo mais longo do mundo como forma de rebater atitudes heteronormativas que os sufocam. Em adição a essa narrativa central, Levithan conta a história de outros jovens que de alguma forma estão ligados ao beijo recorde, tais como Neil e Peter, que estão em um relacionamento que há anos atrás teria sido considerado impossível de acontecer; Avery, um adolescente trans FtM (female-to-male) de cabelo rosa, e Ryan, um menino de cabelo azul, que se conheceram em um baile LGBT; Tariq Johnson, um adolescente agredido fisicamente por causa de sua orientação sexual que motiva Craig e Harry a quererem quebrar o recorde mundial do beijo mais longo; e Cooper Rigs, um jovem que vive no limbo dos aplicativos que facilitam a busca por sexo casual.
"Estão se beijando para mostrar ao mundo que não tem problema dois garotos se beijarem."
Essas diferentes narrativas tecem uma teia complexa que tenta ilustrar o estado da juventude gay de hoje, focando não só no progresso que tem sido feito ao longo das décadas, mas também nas questões que ainda precisam ser enfrentadas para que uma política mais tolerante tenha lugar na nossa sociedade. Um aspecto da obra que considerei bastante inovador é que a história é narrada por uma voz coletiva que consiste nos "seus tios sombras, seus padrinhos anjos, o melhor amigo da sua mãe ou da sua avó da faculdade, os fantasmas da geração mais velha que sobrou". De fato, a história é narrada por uma geração de homens gays que sucumbiram à AIDS durante o advento da doença. Assim, o presente é contado por vozes do passado que querem permitir aos jovens de hoje um futuro melhor.
"Vocês não têm como saber como era para nós antes; sempre estarão um passo à frente. Agradeçam por isso também. Acreditem em nós: existe um equilíbrio quase perfeito entre o passado e o futuro. Enquanto nos tornamos o passado distante, vocês se tornam um futuro que poucos de nós poderiam ter imaginado."
Por causa dessa ponte entre passado e presente, muita tensão é criada dentro do romance, não só porque os narradores parecem habitar um espaço onde o tempo não tem controle, mas também porque essas vozes do passado observam tudo mas são incapazes de fazer qualquer coisa a não ser conversar com o leitor. Apesar dessa tensão, o romance inova em termos de alterar o discurso típico desse gênero, pois ele sutilmente apresenta um discurso político envolvendo as novas gerações, mas sem deixar o passado. A obra do Levithan destaca as dores e alegrias das antigas gerações que travaram diferentes lutas para que hoje homossexuais possam casar, adotar ou mesmo entrar em uma livraria e encontrar na prateleira de lançamentos um livro intitulado Dois Garotos Se Beijando.
Fico extremamente satisfeito por ter encontrado um livro na temática gay onde o autor foi capaz de canalizar o passado e o presente a fim de deslumbrar um futuro ainda estranho para nós, pois afinal, já estivemos em tempos piores, não estamos nos melhores, mas mudanças graduais acontecem queiram preconceituosos ou não. Dois Garotos Se Beijando é um livro que eu daria de presente para aqueles que tem completo desconhecimento do universo gay e que se limitam aos esteriótipos. O desconhecimento gera preconceito e, como um livro para jovens adultos, a obra de Levithan pode ajudar a quebrar alguns padrões heteronormativos desde cedo e também a estimular jovens a seguirem em frente na luta contra a homofobia.
Fico extremamente satisfeito por ter encontrado um livro na temática gay onde o autor foi capaz de canalizar o passado e o presente a fim de deslumbrar um futuro ainda estranho para nós, pois afinal, já estivemos em tempos piores, não estamos nos melhores, mas mudanças graduais acontecem queiram preconceituosos ou não. Dois Garotos Se Beijando é um livro que eu daria de presente para aqueles que tem completo desconhecimento do universo gay e que se limitam aos esteriótipos. O desconhecimento gera preconceito e, como um livro para jovens adultos, a obra de Levithan pode ajudar a quebrar alguns padrões heteronormativos desde cedo e também a estimular jovens a seguirem em frente na luta contra a homofobia.
"Sabemos que alguns de vocês ainda sentem medo. Sabemos que alguns de vocês ainda estão em silêncio. Só porque está melhor agora não quer dizer que é sempre bom [...]. Queríamos poder oferecer a vocês um mito de criação, um motivo exato para explicar por que vocês são como são, por que, quando lerem esta frase, vão saber que é sobre vocês."
Que resenha completa.
ResponderExcluirNa verdade, eu nunca cogitei a possibilidade de entrar numa livraria e ver um título assim, e falar "Mãe, eu quero um livro chamada 'Dois Garotos se beijando' '', e por mais que eu ainda não tenha lido, já gosto demais desse livro, simplesmente pela proposta que ele traz, pela originalidade.
Sua resenha ficou ótima, espero ler esse livro o quanto antes.
Abr
Bárbara
http://myself-here1.blogspot.com.br/
Eu respeito muito a opinião sexual das pessoas, e preconceituosa é uma coisa que nunca fui, porém tenho algumas crenças dentro de minha religião, por isso esse é um livro que não me desperta tanto interesse pela temática. Parabéns pela resenha! o livro foi lido e resenhado em meu blog por uma colunista, que também tem suas crenças mas elogiou muito o trabalho do autor em relação a narrativa.
ResponderExcluirxoxo
http://www.amigadaleitora.com/
Se a sua religião for o cristianismo, então imagino que você não leia quase nada, pois a maioria das histórias de ficção vão contra as regras ditadas na Bíblia, etc - não matarás, adulterarás, não furtarás (imagino que por causa desse mandamento você queira passar longe de A Menina Que Roubava Livros).
ExcluirEnfim, te aconselho a abrir a mente. Eu nem religião tenho e li Mar Morto do Jorge Amado com o coração aberto e a história gira em torno do mito folclórico de Iemanjá. Resultado: um livro incrível que não deixei passar por causa de algum pré-conceito bobo.
Oi!
ResponderExcluirConheço o livro, alias, tenho o livro, porém não tenho nenhuma vontade de ler. Respeito muito a opção sexual dos outros, no entanto, é uma coisa que vai totalmente contra os meus princípios. Não tenho preconceito, e pode ser que algum dia até venha a ter vontade de ler, mas por hora não =/
Gostei bastante da sua resenha =)
Bjs,
Fernanda
http://blogimaginacaoliteraria.blogspot.com.br/
Eu to L O U C O p ler esse desde que li Garoto encontra Garoto, que achei raso mas curti a escrita de Levithan, eu tinha preconceito por ele ser famosinho e tal, e pela capa original quando vi há tempo sem previsquando vi no Goodreads esse livro achei fútil a sinopse virei a cara mas quando a Galera publicou (e eu já tinha lido algo do cara) pronto: QUERO QUERO QUEROOOO.
ResponderExcluirMuito bom o review, parabéns :)
Abs